Alguns poemas escritos por Cid Castello
Bailaste ao som da orquestra na multidão
Ficaste presa às batidas tolas do meu coração,
porém, te libertaste do ritmo quente do meu amor
E eu fiquei a ver navios, estrelas, margaridas…
e eu fiquei a ter pesadelos, versos bruscos, tolos…
E tu te foste qual as naus errantes dos ibéricos,
e tu te foste tranquila, como se trouxesses a razão…
Porém tu não sabes, mas um dia saberás
que tu és apenas a nau errante que caminha,
enquanto eu sou o oceano em que navegas límpida
Desconheces teu destino, que a tragará
e a trará de volta aos meus caminhos,
às minhas coisas,
meus poemas tolos e às sinfônicas bruscas…
Desgovernada, terá que retornar aos meus braços
E eu te acolherei como se jamais houvesse partido
E eu te recolherei qual nunca houvesse enlouquecido
E eu te amarei como se estivéssemos longe há milênios…
E, felizes, então, redescobriremos o destino escondido nas cartas
(sim, os diários de navegação já previam antes mesmo de nós):
O futuro será ainda somente nosso.
Sou um homem inteiro, mas dividido ao meio
Enquanto metade de mim é escrava da razão
a outra parte segue um veio
que nasce onde vive meu coração
Não fosse isso suficiente
Vivo perdido entre o já visto e o não presenciado
Indeciso, busco o futuro preso ao presente
Sem saber se parto ou se fico estacionado
Por isto, não sou totalmente inteiro
e posso dizer-me um homem incompleto
Pois, por mais que pareça um ser verdadeiro
vivo a certeza de não ser totalmente reto
Na verdade, sou torto por ser tortuosa minha estrada
Trilha que sigo entre lembranças distantes
Vou caminhando como se fosse esta a única jornada
mas sigo avançando sempre na direção do antes
Vou na triste trilha em que se perdem os caminhantes
que seguem adiante querendo retornar na caminhada
Que querem viver hoje como se vivia antes
e que, por fim, acabam vivendo nada.
Campo Grande, 7 e 8 de janeiro de 2010
Vivo em um mundo (quase) perfeito
cujo maior defeito
é não conter você
O caminho por mim eleito
deveria ter como maior feito
me fazer esquecer você
Mas, na verdade, não aceito
respirar um ar rarefeito
pois meu oxigênio é você
Vivo a vida deste jeito
mas nunca viverei satisfeito
sem possuir você
Moro em um corpo que rejeito
Pois não há uma só célula do meu peito
que não deseje você
Por isto, à noite, quando me deito
rolo insatisfeito
e procuro por você
Altas horas e o que sinto é o efeito
de como é viver em um mundo cujo preceito
é que seja certo que eu não tenha você.
Campo Grande, 8 de janeiro de 2010
Tú és qual um cometa de vários universos
Vens, de tempos em tempos, mostrar tua face
Vens despertar emoções, sugerir novos versos
E, após um desencontro, buscar um novo enlace
Tú vens das névoas da saudade adquirida
Vens da mais profunda penumbra que a dor traz
Partes de dentro da célula mais atingida
porém, vindo, carregas a droga mais eficaz
Eu sou apenas um poeta, um sonhador
Um predestinado dos verbos sofrer e ferir
Um errante, em busca eterna do amor
Alguém que sonha ficar, quando é preciso partir
Tú vens do horizonte distante
És uma estrela que de longe continua a reluzir
Alguém que de dentro do amigo clama pelo amante
E que o abandona quando este chega a sorrir.
Campo Grande, 31 de outubro de 1982
Fiz um coração só pra te amar
Deixei o outro pra bater
Um ficou pra te querer
O outro, pra sonhar
Em um daqueles carnavais
Peguei na tua mão
Abri meu coração
E amei até não poder mais
Depois, não pude mais me conter
Te dei os dois lados do peito
O esquerdo e o direito
Sonhando nunca sofrer.
Campo Grande, 1 de julho de 1981
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