História da Casa Grande e Adjacências

Texto de Cid Castelllo


A história de Campo Grande - e, mais especificamente, da Avenida Afonso Pena - não pode deixar de registrar dados sobre a “Família Castello” - que por quase quatro décadas residiu na famosa avenida de Campo Grande, mais precisamente no número 677.

Esta história começa na cidade de Aquidauana, interior do Estado, de onde minha bisavó paterna Phylomena Alves Corrêa Castello se transferiu para Campo Grande.

Relata o livro "Genealogia da Família Alves Corrêa" (de Ivan Alves Corrêa, Ed. Theasaurus, 1992) que Phylomena Alves Corrêa, batizada no dia 4 de fevereiro de 1858, era a décima filha de Estevão Alves Corrêa - filho do Guarda-Mor de mesmo nome - e de Senhorinha da Silva Rondon.

Phylomena herdou os campos em que viria a fundar a lendária “Fazenda Santa Avoya”, às margens do Rio Aquidauana, propriedade que deixaria, em setembro de 1912 e já viúva do meu bisavô - o então chamado "Capitão" Antônio Xavier Castello, quando se mudou para Aquidauana, acompanhada de seus quinze filhos.

No final da década de 20, Phylomena decide se mudar para Campo Grande, deixando a Fazenda Santa Avoya sob os cuidados de seu décimo terceiro filho, meu avô paterno Francisco Alves (Corrêa) Castello.

Aqui chegando, adquiriu uma grande área na Avenida Afonso Pena, entre as ruas Rui Barbosa e Pedro Celestino, onde havia uma pequena casa nos fundos, do lado direito do terreno. Phylomena ficou morando naquela casinha, enquanto não concluía a construção daquela que, posteriormente, veio a ser conhecida como a “Casa Grande da Família Castello”.

Conta-se que Phylomena era uma autêntica construtora de casas e iniciou a obra em 1927, vindo a concluí-la em 1929, quando inaugurou a casa, passando a nela residir.

A casinha dos fundos, onde Phylomena morara durante as obras da Casa Grande, esta ela passou para seu décimo quinto filho, João Baptista Alves Castello, que lá passou a residir com sua esposa, Josephina Furrer, mais conhecida como "Sinhá".

Na frente da casa de João Castello, mais à direita do terreno, Phylomena construiu outra edificação, que passou às mãos de Geraldo Alves Castello, seu nono filho - casa esta posteriormente vendida ao então conhecido “Capitão Dorileu”. No local atualmente funciona uma clínica odontológica.

Como a Casa Grande foi totalmente reformada e ampliada pelo INCRA, tendo sido completamente desfigurada, pode-se considerar que o imóvel vendido ao Capitão Dorileu e hoje utilizado pela clínica odontológica é o único imóvel ainda remanescente dentre todas as obras feitas no terreno original adquirido por Phylomena.

João Castello veio, posteriormente, a construir uma outra residência, na frente da sua, para sua sobrinha Zulmira, criada como filha. Esta casa foi posteriormente vendida para o meu avô materno Francisco de Borja Motta, mais conhecido como "Nanana", por 8,5 milhões de cruzeiros, sendo que este a vendeu para um Capitão Médico da Aeronáutica, que ali montou um laboratório de Análises Clínicas.

Posteriormente, esta casa foi vendida para o Sr. Natanael de Queiróz (filho do fundador do Expresso Queiróz, Lourenço Pereira Queiróz, que depois de trabalhar um tempo com o pai, fundou a sua própria empresa, a NPQ). A esposa de Natanael montou no local a "Casa da Sogra", loja de utensílios domésticos e presentes, que funcionou até a venda do imóvel para o Hospital Sírio-Libanês - que a demoliu para possibilitar o acesso ao hospital, construído onde era a casa que foi de João Castello, depois vendida para o Sr. Tonico, marido de Nair, irmã de Zulmira.

Alguns anos depois, Phylomena decide retornar a Aquidauana, deixando a Casa Grande para seus filhos Francisco e Raquel. A casa foi, então, alugada para um militar, cujo nome se perdeu na história.

Outro imóvel construído por Phylomena, antes de seu retorno a Aquidauana, foi uma residência em frente à Casa Grande, do outro lado da Avenida Afonso Pena, que foi doada para o seu sétimo filho, Dionísio Alves Castello, mais conhecido como "Diúna". Esta casa passou, posteriormente, para os filhos de Diúna, tendo servido de residência para sua filha mais nova, Conceição. Algum tempo depois, este imóvel serviu como escritório de um dos netos de Diúna, o advogado Marco Antônio Ferreira Castello.

Justificando sua fama de construtora de casa, Phylomena edificou, ainda, várias outras obras em Aquidauana, onde veio a falecer, em 11 de julho de 1952, aos 95 anos.

Em 1943, Francisco Alves (Corrêa) Castello, filho de Phylomena, deixa a Fazenda Cruzeiro – que era a parte que lhe coubera na divisão da Fazenda Santa Avoya - e muda-se com sua esposa, minha avó paterna chamada Felicidade Motta Castello - mais conhecida como "Dona Polaca" - e seus cinco filhos de então para a Casa Grande, comprando a parte de Rachel Alves Castello por 37,5 milhões de cruzeiros, passando a nela residir.

Francisco Castello, meu avô paterno, faleceu em 25 de novembro de 1953 e sua viúva, minha avó Polaca, ficou residindo na Casa Grande por mais alguns anos com seus filhos.

Algum tempo depois, Dona Polaca alugou a casa para nela instalar-se um dos primeiros colégios de Campo Grande, o Pequenópolis, indo residir, então, na Rua Rui Barbosa, em uma casa na Vila Naglis, de propriedade de Jamil Félix Naglis.

O contrato de aluguel da Casa Grande com o colégio Pequenópolis foi feito por cinco anos, mas teve que ser rescindido antes de seu término, já que foi lavrado sem uma cláusula de reajustamento, fazendo com que o valor sofresse uma defasagem, algum tempo depois. Com isso, dona Polaca via seu aluguel na Vila Naglis aumentar e, com o tempo, foi obrigada a pedir a Casa Grande de volta - o que somente se deu após a interferência de amigos comuns.

Voltando para a Casa Grande, Dona Polaca lá residiu mais algum tempo, até que seu genro Jorge Elias Zahran - casado com sua terceira filha, Maria José Motta Castello - lhe fez, então, uma proposta de trocarem de imóveis. Na época, Jorge e Maria José residiam em uma pequena casa na Rua Barão do Rio Branco, ao lado de onde é, hoje, a Sauna do Rádio Clube, imóvel pequeno para a família, que já contava com alguns filhos.

A casa da Rua Barão do Rio Branco, já pequena para abrigar a família de Jorge Elias Zahran e Maria José Castello Zahran, tornou-se menor ainda quando nela passaram a funcionar as primeiras instalações da TV Morena, cujo transmissor foi abrigado em um dos quartos, sendo a sala transformada em estúdio - onde trabalhavam, além de outros, o primeiro Camera Man da TV, meu pai Dario Castello, irmão de Maria José, além desta própria, que servia como iluminadora.

A Casa Grande, ao contrário, era grande demais para a viúva, além de importar em despesas elevadas. Fizeram, então, a troca e Maria José e Jorge Zahran ficaram lá residindo, até que, em 1966, Dona Polaca resolveu transferir-se para o Rio de Janeiro e vendeu a Casa Grande para o INCRA, por 120 milhões de cruzeiros.